5 Poesias de Augusto dos Anjos Que Você Deve Ler

Augusto dos Anjos (1884–1914) é um dos mais singulares poetas da literatura brasileira. Sua obra, marcada por um tom pessimista, cientificista e profundamente filosófico, mistura elementos do simbolismo e do pré-modernismo. Com temas que abordam a efemeridade da vida, a morte e a decadência do corpo, seus versos continuam impactantes até hoje.

Aqui estão cinco das suas poesias mais marcantes para conhecer e refletir.


1. Versos Íntimos

Este é o poema mais famoso de Augusto dos Anjos. Nele, o poeta descreve a dureza da vida e a ingratidão humana, em um tom brutal e realista.

📜 Poema completo:

Versos Íntimos

Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão — esta pantera —
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo! Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!

💡 Por que ler?
O poema reflete sobre a falsidade das relações humanas, a ingratidão e a amargura da vida.


2. Psicologia de um Vencido

Neste poema, Augusto dos Anjos explora sua visão fatalista da existência, utilizando imagens fortes e um vocabulário repleto de termos científicos.

📜 Poema completo:

Psicologia de um Vencido

Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.

Profundíssimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância…
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.

Já o verme — este operário das ruínas —
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há-de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!

💡 Por que ler?
O poema reflete sobre a insignificância da vida humana e a inevitabilidade da morte, com uma linguagem forte e científica.


3. A Idéia

Um dos poemas mais filosóficos de Augusto dos Anjos, onde ele descreve a ideia como algo torturante, que o consome internamente.

📜 Poema completo:

A Idéia

De onde ela vem?! De que matéria bruta
Vem essa luz que sobre as nebulosas
Cai, como um véu de lágrimas chorosas,
Como um jorro de luz, que se transmuta?!

Vem da matéria essencial e impoluta
Das camadas sublimes e radiosas,
Que, em seio aberto, geram as famosas
Geômetras da órbita absoluta!

Não sei! Mas sei que em minha amarga estrada
Essa luz maravilhosa e irradiante
Dá-me a força da súplica sagrada!

E há de chegar, na extrema palinódia,
Um tempo que, — entre a luz do diamante, —
Ela será somente a própria Idéia!

💡 Por que ler?
O poema fala sobre o mistério da consciência e da criação intelectual, refletindo sobre a essência das ideias.


4. Trevas

Aqui, o poeta descreve a morte como uma presença inevitável e inescapável, utilizando imagens fortes e um tom sombrio.

📜 Poema completo:

Trevas

Eu desci, doloroso e solitário,
Até o último círculo dos mortos,
E debaixo dos pórticos absortos
Vi o castigo do Remorso Vário!

Como um espectro pálido e lendário,
Dentro das sombras dos espaços tortos,
Eu vi morrerem negros e retortos
Sonhos dentro do abismo lapidário!

Então vi que o Homem miserável vinha,
Buscando a Luz e tateando a linha
Que há de salvá-lo da Desgraça imensa!

Mas era tudo treva! E ao céu de aço
Eu ergui a pupila baça e densa,
E não achei sequer um só pedaço!

💡 Por que ler?
O poema reforça a visão de Augusto dos Anjos sobre a morte e a insignificância humana diante do universo.


5. Os Doentes

Um poema que descreve a fragilidade do corpo humano e o sofrimento da doença, com o tom fatalista característico do autor.

📜 Poema completo:

Os Doentes

Gemem dentro de mim todas as dores,
Gemem todas as fúrias ululantes!
Sou a destra dos vírus triunfantes,
Fecundando de chagas os tumores.

Passa um cortejo de defuntos lores…
Lembro os círculos negros de Dante,
Ando a cavalo numa dor gigante,
Atormentando os reinos interiores.

Vejo um cachorro morto que apodrece
E um escarro de pus que se estremece
No patético horror das injeções.

Sei que a lepra e a fome apodrecente
São em mim uma coisa que se sente
Em todos os nervosos corações!

💡 Por que ler?
O poema mostra o olhar cruel e realista de Augusto dos Anjos sobre a fragilidade humana e a doença